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Sábado, 5 de Agosto de 2006

Paraty - Análise de um redator

O ENLARPP (Encontro Latino-Americano de Redatores Publicitários de Paraty) prometeu mais do que cumpriu. Na minha opinião, para os quase mil participantes deve ter ficado um gostinho de quero mais, um certo travo na boca. E sei que para mim ficou.

E sei que para mim ficou. Afinal, tirando Nizan Guanaes e sua apaixonada defesa pela reinvenção perene do redator, e de Fernando Fernandez , diretor criativo da Fischer Argentina, que trouxe uma comparação bem legal sobre as capacidades e competências de redatores junior e senior e do diretor de criação, o resto foi mais do mesmo.No ótimo blog coletivo Retóricos em Paraty, André Amaral colocou alguns vídeos com trechos de palestras (Nizan) e da balada.

Muito legal ouvir as histórias do velho Lula Vieira, os causos e as grandes frases de Ercilio Trajan e Gilberto Reis, o próprio rolo de Nizan, mas a verdade é que o papel do redator na comunicação atual precisa ser rediscutido urgentemente. Assusta, nas conversas com a moçada de vários estados, como a visão ainda é regionalizada, restrita ao copy puro e simples, e como a tecnologia e a mudança da linguagem
ainda são pouco percebidas.

Nizan Guanaes, ame-o ou odeie-o, foi direto na ferida. Não dá pra tentar traduzir a comunicação que era feita nos tempos românticos dos reclames para o dia de hoje. A Internet NÃO é o futuro, é o presente! E quem não se adaptar, quem não entar de cabeça neste mercado integrado, vai ficar do cais vendo o barco zarpar.

E é interessante ver como o próprio Nizan mostrou um rolo datado, com os indefectíveis filmes da Lee (a manifestação), Hitler (para a Folha), Mamíferos (Parmalat) e as recentes campanhas para Itaú e Assolan, entre outras pérolas próprias ou criadas sob sua coordenação.

Analisando os quase 40 minutos do rolo, quem conseguir separar o assombro com textos fabulosos e sacadas geniais vai perceber que os conceitos vão evoluindo, chegando aos dias de hoje muito mais integrados, com elementos de promoção, com preocupações de integração de PDV e de Endomarketing no Planejamento e desenvolvimento da idéia.

Ver o Carlos Pedrosa brigando com sua apresentação, toda feita em vídeo com tempo demarcado para cada slide, foi a síntese desta desinformação, desta dicotomia entre o que se prega e o que se executa. Sua palestra começava com a célebre frase de Mauro Salles criada para a Willys nos idos dos anos 60(!!!) (Faça como a Ford:
Compre Willys). Um conceito genal, uma sacada que, inclusive, foi citada ou inspirou a recente veiculação da Perdigão, respondendo à tentativa de compra da Sadia. Mas foi no início da década de 60, ora bolas...

Após muita briga com o programa de DVD (Porque cargas d'água ele não fez a parada em PPT?), ele conseguiu a ajuda de um técnico para falar, exatamente, em redator nos tempos de internet. E pula dos anos 60 direto para o dia de hoje, com uma analogia entre a sigla www e a música de Louis Armstrong, What a Wonderful World. Ele tira o L de world, e a frase fica uma bela sacadinha, What a Wonderful
WORD. E foi só. Mais do mesmo, a velha tradução da linguagem analógica para os tempos de hoje, com a triste prova de que o faça o que eu falo, não o que eu faço, ainda é muito presente.

A entrega do redivivo prêmio Jeca Tatu a Mauro Salles e Antônio Torres trouxe mais uma sessão de lembranças nostálgicas, de citações dos tempos românticos quando qualquer um sentava numa máquina de escrever e saía criando textos e chamadas... old, old, old. Não quero aqui desmerecer os que vieram antes de nós, mas para um monte de estudantes, o que deveria se debater não seria o que fazer daqui pra
frente?

O argentino Fernando Fernandez trouxe uma reflexão interessante sobre a diferença da carga de experiência entre um redator júnior, um redator sênior e o perfil mais completo de um diretor de criação. Muito útil para aqueles momentos em que nos perguntamos porque a peça tal foi gongada, como interagir com seu dupla e o caminho necessário para se ascender na profissão.

A viagem foi proveitosa, os contatos importantes, e a conclusão assustadora: Ainda não temos redatores publicitários que falem a língua atual. O que temos são os dinossauros de sempre, tentando hablar portuñol com os novos tempos, e os estudantes que não procurarem fontes próprias, acabarão com um sotaque fortíssimo na
briga por uma vaga no mercado.

Encerro com uma frase pinçada da apresentaçã do Nizan: "Reinventem-se. Sejam não apenas redatores publicitários, mas CRIADORES publicitários".

Nos vemos no ano que vem.

Qua agora tem balada... Ninguém é de ferro, né?

Jeff Paiva
Redator
HUB Brasil

1 Pitacos:

Anonymous F.Schüler falou...

Às vezes eu tenho mesmo esse medo de que o meu ambiente me ensine a como NÂO fazer publicidade. Falta essa habilidade de se mover com graça no mundo que existe, coisa que não dá pra fazer baseando-se só no que se sabe sobre aquele mundo que não existe mais. Chamem-me de reducionista, mas acho que a gente precisa de um ingrediente a mais, aquilo que lá na minha terra, com grã sutileza, chamamos de COLHÃO.

07/08/06 19:42  

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