A semana começou bem. O trabalho novo, os desafios, a aceitação imediata na equipe.
Novas caras, novo e acelerado ritmo, um grau de imersão que há muito eu não experimentava. O tempo se liquefez em horas trabalhadas, logadas e praticamente voou sob meus olhos.
E chegou o fim de semana prolongado, a promessa de três dias para recarregar as baterias com o feriado estadual de 9 de Julho... Chance de namorar, de curtir a alegria de estar na ativa e com tanto potencial a ser realizado.
Até que pintou uma valeta no meio do caminho, que veio se somar a duas fechadas de um babaca num carro de empresa lá atrás, à falta de paciência e a uma certa irresponsabilidade e excesso de confiança.
E o Kazinho saiu da curva mais rápido e mais alto do que deveria. E o controle do volante não foi suficiente. E a batida foi feia. Assim como foi feio o medo de ver que, no carro que acertei, bem na área de impacto – no meio da coluna central – estava uma senhora com um bebezinho recém-nascido.
Num instante tudo mais o que me incomodava foi varrido para fora da mente, e só conseguia me odiar por ter sido auto-confiante demais, por ter ignorado o instinto que me dizia, desde a manhã, para não sair de carro e dirigir mais de 30 km dentro da cidade. A pequena voz que ficava repetindo “fica em casa”, que foi ignorada e que, depois, misericordiosamente não voltou dizendo “I told you so”.
Graças a Deus nada de mais aconteceu à pequena Mariana, nem à sua mãe e sua avó, que a protegeu instintivamente – além do susto de ver um carro sair da curva a milhão, perder o controle e vir para cima delas. Os dois carros ficaram bem estragados, mas rodarão de novo.
E este escriba se penitencia, revendo a acelerada cheia de raiva rumo à curva, sentindo novamente os pneus dianteiros escorregando no olho de gato da rotatória, descendo e subindo a valeta, arremetendo rumo à porta do Citröen. O som do plástico e do metal se deformando, o ensurdecedor silêncio após a batida...
Agradeço aos anjos da guarda que protegeram as três no carro. Agradeço à avó, que saiu desesperada com a neném no colo, berrando impropérios em minha direção, para depois me chamar no canto – já com tudo resolvido e todos bem – para me dar conselhos valiosos e me acalmar.
A noite foi longa. O feriado vai ser mais longo ainda. Mas a lição que fica, o susto e a graça de não ter acontecido nada de mais grave não serão esquecidos.
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